O que o Diálogo Global da ONU sobre Governança da IA Revela sobre Mudanças de Poder Global
No dia 25 de setembro, a Organização das Nações Unidas lançou o Diálogo Global sobre Governança da IA. Este diálogo visa fornecer uma plataforma para futuras discussões sobre a governança da IA. Governos e outras partes interessadas se reunirão anualmente, começando no AI for Good Global Summit de 2026 em Genebra, para discutir o desenvolvimento seguro de sistemas de IA, as lacunas de capacidade de IA em países em desenvolvimento, a interoperabilidade dos esforços nacionais de governança de IA e as implicações socioeconômicas das tecnologias de IA.
O Diálogo Global sobre Governança da IA é um marco na busca por uma governança multilateral da IA, mas nem todos os países apoiam essa iniciativa. No debate do Conselho de Segurança da ONU realizado um dia antes do lançamento, os Estados Unidos manifestaram forte oposição a todas as iniciativas de governança multilateral da IA, levantando dúvidas sobre o futuro do diálogo e sua relevância.
Origem do Diálogo Global sobre Governança da IA
Esse lançamento foi planejado por um ano. Em um relatório publicado em setembro de 2024, o Grupo Consultivo de Alto Nível da ONU sobre IA recomendou a criação de um painel científico sobre IA, semelhante a iniciativas existentes que avaliam os riscos das mudanças climáticas e da radiação atômica. O relatório também propôs um diálogo político recorrente que se basearia na expertise técnica do painel e trabalharia em direção a uma estrutura de governança multilateral da IA. Durante a Cúpula do Futuro, no mesmo mês, as Nações Unidas se comprometeram a estabelecer o Painel Científico Internacional Independente sobre IA e o Diálogo Global sobre Governança da IA no Compacto Digital Global.
Posições dos Países na ONU
A maioria dos países clamou por cooperação na governança multilateral da IA, especialmente para abordar a divisão digital entre o Norte e o Sul Global, embora com nuances nacionais. Ao contrário de tratar o diálogo como um gesto diplomático de baixo custo, os Estados Unidos foram os únicos a se opor, rejeitando o controle centralizado e a governança global da IA. Em contraste, a China expressou forte apoio a uma estrutura de governança global, alinhando-se estreitamente com os países em desenvolvimento e defendendo que todas as nações tenham um assento à mesa.
Comparação com Conversas Internacionais Anteriores sobre IA
A maioria dos países ecoou posições consistentes com iniciativas multilaterais anteriores sobre IA, mas a declaração oposta dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU marcou uma ruptura mais acentuada. Em 2019, Washington havia endossado os Princípios de IA da OCDE e acolhido os princípios “centrados no ser humano” do G20. No entanto, a postura dos EUA neste novo diálogo indica uma mudança em sua estratégia.
Motivos da Rejeição da Governança Global de IA pelo Governo dos EUA
O governo dos EUA vê a governança global da IA por um corpo internacional como um obstáculo à inovação e à difusão dos valores americanos, considerando esses fatores como objetivos estratégicos na corrida de IA contra a China. A ação do governo dos EUA prioriza o estabelecimento de padrões de fato e governança por meio da difusão de sua pilha tecnológica.
Por que a China Apoia os Esforços de Governança Global?
O Partido Comunista Chinês (PCC) vê a governança global baseada na ONU como uma oportunidade para atenuar a liderança dos EUA em IA e cultivar poder brando. Durante a discussão no Conselho de Segurança da ONU, a China defendeu uma abordagem de consenso e argumentou contra o unilateralismo e o protecionismo.
Implicações para a Governança Global da IA
A rejeição dos EUA reduz substancialmente a relevância do diálogo a curto prazo, uma vez que uma governança global significativa é difícil sem a participação do principal detentor de tecnologia. Isso também reforça o vácuo de liderança que a China parece pronta para preencher. Além disso, a participação do Sul Global no diálogo enfatiza a crescente engajamento e a busca por uma governança inclusiva. O envolvimento das grandes empresas de tecnologia, especialmente as baseadas nos EUA, sugere que, embora Washington permaneça cético, essas empresas veem valor na construção de confiança em IA e na superação da divisão digital.
Em suma, o Diálogo Global sobre Governança da IA da ONU é mais significativo por seu sinal simbólico de vontade política do que por seu impacto regulatório imediato. A participação do Sul Global e o papel crescente da China são tendências que merecem atenção nos próximos eventos.