EU: Os Tempos Estão Mudando – Governança de IA em um Ponto de Inflexão
O cenário atual da governança de IA na Europa reflete uma série de desafios e transformações significativas. Durante o recente painel da Computers, Privacy and Data Protection (CPDP) em Bruxelas, foram discutidos os impactos da desglobalização, do nacionalismo de direita e das crises econômicas sobre a política tecnológica do continente.
O Perigo da Política Industrial Competitiva
A crescente ênfase da Europa em uma política industrial ‘competitiva’ está em risco de sacrificar as proteções dos direitos humanos e uma governança significativa da IA em favor da manutenção dos desequilíbrios de poder existentes. Essa mudança de foco dos reguladores da UE pode resultar em retrocessos nas legislações que visam regular o ambiente digital.
O Painel e os Especialistas
O painel reuniu especialistas renomados para discutir as tensões atuais:
- Dr. Seda Gürses, professora associada na Universidade Técnica de Delft, que analisa a transformação institucional e econômica provocada pela infraestrutura computacional.
- Maria Donde, diretora de Assuntos Internacionais na Coimisiún na Meán, que lidera programas de engajamento internacional e supervisiona as relações com instituições europeias.
- Kai Zenner, assessor de política digital no Parlamento Europeu, que discute as dinâmicas institucionais e os desafios na formulação de políticas digitais.
- Dr. Maria Luisa Stasi, chefe de Direito e Política para Mercados Digitais na ARTICLE 19, com experiência em direito da concorrência e proteção dos direitos fundamentais.
Desafios da Regulação de IA
A discussão abordou como assegurar que a governança de IA na Europa permaneça firmemente enraizada no estado de direito e nos direitos fundamentais. As análises revelam que a abordagem atual pode estar fundamentalmente equivocada, já que a regulamentação da IA não está acompanhando as mudanças estruturais que ocorrem na economia global.
A Avaliação Acadêmica: A IA é uma Distração?
A Dr. Seda Gürses argumentou que as perguntas feitas pelos formuladores de políticas são inadequadas. Enquanto se concentram em tecnologias individuais, como ‘big data’ e ‘IA generativa’, perdem de vista as transformações estruturais que as grandes empresas de tecnologia estão trazendo para a economia global. Segundo Gürses, a IA é uma ferramenta que aprofunda as dependências econômicas, em vez de ser uma força disruptiva.
A Realidade dos Reguladores
Maria Donde ressaltou que os reguladores estão lutando para acompanhar as tecnologias em rápida evolução. A nova estrutura da Lei de Serviços Digitais opera com base em princípios ao invés de regras prescritivas, exigindo anos de aprendizado iterativo para identificar intervenções eficazes.
A Perspectiva Parlamentar: A Política Digital Coerente Sobrevive?
Kai Zenner destacou a mudança de foco da Comissão Europeia de regulamentação para competitividade, sem abordar os problemas estruturais subjacentes. A proposta de retirada da Diretiva de Responsabilidade da IA exemplifica essa mudança, onde a Europa pode estar abandonando proteções importantes em favor de vantagens percebidas de inovação.
O Chamado da Sociedade Civil
A Dr. Maria Luisa Stasi analisou como as organizações da sociedade civil navegam nas discussões de governança de IA, que frequentemente são dominadas por considerações empresariais e de segurança. A exclusão sistemática dos defensores dos direitos fundamentais mostra a necessidade urgente de integrar essa perspectiva nas discussões sobre política digital.
Um Continente em um Momento Decisivo
As quatro perspectivas apresentadas no painel iluminam diferentes facetas do mesmo desafio fundamental: a estrutura atual de governança de IA na Europa não consegue capturar a escala da transformação em andamento. É necessário inverter a relação entre tecnologia e sociedade, desenvolvendo tecnologias que sirvam a uma visão de justiça estrutural e direitos fundamentais.
Os tempos estão realmente mudando, e é crucial que a Europa se adapte a eles com um compromisso renovado com os direitos fundamentais, não subordinado aos interesses corporativos.