Bruxelas Mirage: O Brilho Sutil da Lei de IA da UE Através das Fronteiras Internacionais
Com a discussão nos EUA sobre uma moratória de 10 anos em toda a legislação federal de IA, conhecida como ‘One Big Beautiful Bill Act’, muitos países ao redor do mundo estão, de maneiras muito diferentes, legislando sobre IA. Na ausência de um modelo regulatório dos EUA, países com suas próprias leis de IA e propostas, como Japão e Brasil, olham para a Lei de IA da UE de 2024 como um guia. Essa questão é central nos debates atuais sobre a regulação da tecnologia: Existe (ou haverá) um efeito Bruxelas da Lei de IA da UE?
O Efeito Bruxelas da Lei de IA da UE?
O termo ‘efeito Bruxelas’, cunhado pela acadêmica de direito Anu Bradford, refere-se à capacidade da UE de moldar a regulação global, estendendo o alcance de suas decisões legislativas. Desde o GDPR até a Lei de Mercados Digitais e a Lei de Serviços Digitais, os legisladores europeus aspiram que a legislação europeia se torne, de fato, a linha de base para empresas, independentemente de onde operem.
Na elaboração e adoção da Lei de IA em 2024, o legislador europeu buscou seguir o curso regulatório estabelecido pelo Regulamento Geral de Proteção de Dados de 2012, ao mesmo tempo em que avançava com uma abordagem distinta da dos Estados Unidos. No entanto, a UE enfrenta crescente pressão para justificar suas intervenções legislativas no setor de tecnologia, com preocupações sobre a competitividade.
Legislação Internacional de IA
A Lei de IA da UE depende fortemente da normalização de IA europeia. Os organismos de harmonização europeus, como CEN e CENELEC, são encarregados de desenvolver padrões de IA a pedido da Comissão Europeia. Contudo, a entrega de suas normas harmonizadas foi adiada, e persistem dúvidas sobre se o novo prazo será respeitado.
Enquanto os padrões de IA europeus ainda estão em desenvolvimento e os EUA resistem a uma regulação abrangente de IA, o ISO e o IEC têm trabalhado em padrões internacionais de IA desde 2017. Países como China e Japão buscam influenciar esse fórum regulatório, posicionando-se como líderes na definição de padrões internacionais.
A Mirage Bruxelas
A Lei de IA da UE continua a servir como um ponto de referência para países que desenvolvem legislação sobre IA, mas gradualmente se transforma em um modelo simbólico, e não em um plano prático. Essa imagem destaca três conclusões principais:
Primeiro, uma miragem é uma ilusão óptica que muda com a perspectiva – o que parece estar em um lugar, ao ser examinado de perto, é encontrado em outro lugar. A abordagem regulatória da Lei de IA da UE não se ajusta ao efeito Bruxelas. Sua dependência de padrões de IA internacionais a torna mais receptiva a desenvolvimentos internacionais do que se poderia esperar.
Em segundo lugar, países como o Brasil estão adicionando suas próprias ênfases distintas à regulação de IA, o que torna os contornos da influência da Lei de IA da UE além da Europa menos definidos.
Por fim, a imagem da miragem Bruxelas sublinha que numerosas questões permanecem em aberto sobre a regulação da IA. O processo legislativo brasileiro indica um abandono da proposta atual em direção a uma regulação mais baseada em princípios, refletindo uma mudança no enfoque regulatório que parece ecoar através do Atlântico.