A Nova Lei de IA do Cazaquistão: Um Caminho Ambicioso Inspirado pela UE
Com a aprovação do projeto de lei ‘Lei sobre Inteligência Artificial’ em maio, na primeira leitura pela Mazhilis, a câmara baixa do parlamento do Cazaquistão, a nação da Ásia Central sinaliza sua intenção de regular a IA com uma abordagem centrada no ser humano.
“O projeto reflete as grandes tendências globais na regulação da IA”, afirmou Shoplan Saimova, chefe do Centro de Legislação Pública e Administração Pública do Instituto de Parlamentarismo. “A Lei de IA da UE serve como modelo”, acrescentou Saimova.
Saimova mantém que o Cazaquistão não busca apenas acompanhar, mas sim liderar, elaborando uma estrutura adaptada aos valores e necessidades nacionais, promovendo a confiança entre humanos e algoritmos enquanto protege o interesse público.
Abordagem Abrangente
A legislação proposta repousa sobre princípios fundamentais, como justiça, legalidade, responsabilidade e um compromisso com o bem-estar humano.
Ela proíbe a coleta de dados não autorizada e considera a introdução de responsabilidade criminal por uso indevido em larga escala de sistemas de IA que representem riscos ao público.
Saimova declarou que “o Cazaquistão não está perseguindo uma corrida irresponsável por progresso, mas está, em vez disso, construindo um sistema responsável centrado nos direitos humanos e no bem-estar social.”
Além da regulação, a lei pode reformular a força de trabalho do país. Especialistas destacaram a necessidade urgente de requalificação dos profissionais de TI, particularmente em design de sistemas de IA e ética digital.
A iniciativa segue esforços anteriores do governo para regular o mercado de cripto doméstico, visto que a interseção da IA e blockchain é cada vez mais considerada uma nova fronteira na inovação digital.
Equilíbrio Necessário
Igor Rogov, chefe da comissão de direitos humanos do Cazaquistão, alertou que, sem estruturas legais adequadas, a IA pode representar riscos aos direitos fundamentais.
Ele enfatiza três preocupações principais: quem arca com a responsabilidade quando a IA causa danos; quem possui o conteúdo produzido pela IA; e como impedir que a IA seja utilizada para fraudes ou enganos.
A judiciária do Cazaquistão já começou a usar a IA para redigir decisões em casos civis, sinalizando o início da integração da IA nas instituições públicas, embora os juízes mantenham a autoridade final.
Rogov defende a participação de órgãos legais europeus e incentiva o debate público, observando que a legislação deve ser eficaz na prática e respeitar as liberdades individuais.
Na sua opinião, a abordagem centrada no ser humano do Cazaquistão em relação à transformação digital reflete um compromisso crescente em garantir que a inovação sirva – e não prejudique – seu povo.
Gaps na Regulação
Um recente estudo acadêmico realizado por cinco estudiosos cazaques oferece uma análise legal comparativa da legislação de IA do Cazaquistão e da Lei de IA da UE.
Ele constata que, enquanto o Cazaquistão adota elementos de uma abordagem baseada em risco – incluindo proibições sobre IA autônoma, estratificação de risco e disposições de transparência – sua estrutura permanece subdesenvolvida em quatro áreas-chave.
Essas áreas incluem a ausência de um sistema claro de classificação de risco, requisitos insuficientes para transparência algorítmica, proteções limitadas de dados pessoais e falta de instituições fortes para fazer cumprir a lei.
Os autores argumentam que o Cazaquistão poderia se beneficiar da adoção seletiva de elementos do modelo da UE, adaptados ao contexto legal nacional.
Eles sublinham a importância de estabelecer padrões regulatórios claros, reformas de proteção de dados e maior capacidade institucional para garantir a conformidade.
O estudo também identifica desafios únicos impostos pelo panorama midiático e pelo ambiente multilíngue do Cazaquistão. Ele alerta que a transparência e a responsabilidade só serão eficazes se apoiadas por educação pública e pela infraestrutura técnica necessária.
Embora os esforços legais sejam promissores, os autores concluem que mais trabalho é necessário. A partir da experiência da UE, o Cazaquistão pode construir um ecossistema de IA responsável e confiável – um que proteja os direitos dos cidadãos enquanto atrai parcerias e investimentos globais.