Kazakhstan Estabelece Cenário para Regulamentação de IA com Novo Projeto de Lei
O Mazhilis, a câmara baixa do Parlamento do Cazaquistão, aprovou em primeira leitura, no dia 14 de maio, um projeto de lei sobre inteligência artificial, marcando a intenção do país de estabelecer um quadro legal para o desenvolvimento e uso de tecnologias de IA.
A rápida evolução da IA apresenta tanto oportunidades significativas quanto riscos sérios, sendo um dos principais desafios a falta de regulamentação legal. O novo projeto de lei visa preencher essa lacuna.
Reconhecimento dos Desafios Globais
Sholpan Saimova, chefe do Centro de Legislação Pública e Administração Pública no Instituto de Parlamentarismo, destacou que a nova lei demonstra o reconhecimento do Cazaquistão sobre os desafios globais impostos pela IA e seus esforços para elaborar uma resposta sistemática.
“O projeto reflete as principais tendências globais em regulamentação de IA. Muitos países adotaram abordagens sistemáticas para a governança da IA. O AI Act da UE, adotado em 2024, serve como a primeira legislação de IA baseada em riscos do mundo e já é um modelo para países como o Cazaquistão”, afirmou Saimova.
O Cazaquistão busca não apenas acompanhar, mas liderar com um quadro nacional adaptado que fomente a confiança entre humanos e algoritmos, além de garantir um equilíbrio entre o progresso tecnológico e o estado de direito. O projeto de lei enfoca fundamentos legais e éticos para garantir um desenvolvimento responsável da IA que beneficie a sociedade.
Segurança de Dados e Segurança Pública em Foco
No cerne da proposta de lei está uma abordagem centrada no ser humano, considerando a IA como uma ferramenta que deve servir as pessoas e proteger o interesse público. Os princípios fundamentais incluem legalidade, justiça, igualdade, transparência, explicabilidade, responsabilidade e a priorização do bem-estar humano.
“O princípio de transparência e explicabilidade garante que as decisões impulsionadas por IA sejam compreensíveis e verificáveis, especialmente quando afetam os direitos dos cidadãos. O foco no bem-estar humano enfatiza que a tecnologia deve capacitar, e não substituir, as pessoas, e não deve sobrepor a autonomia individual”, disse Saimova.
Ela acrescentou que essa abordagem sinaliza claramente que o Cazaquistão não está perseguindo uma corrida imprudente pelo progresso, mas está construindo um sistema responsável centrado nos direitos humanos e no bem-estar social.
Colaboração Ampla na Elaboração da Lei
Saimova observou que o projeto foi desenvolvido através de uma ampla colaboração. Deputados, representantes ministeriais, especialistas legais, profissionais de TI e economistas contribuíram para o rascunho. Organizações como a Câmara Nacional de Empreendedores Atameken, Kazakhtelecom, Tecnologias da Informação Nacionais, a Associação Digital do Cazaquistão, a Associação de Empresas de TI do Cazaquistão e a Yandex Qazaqstan participaram do grupo de trabalho.
“É encorajador que as discussões estejam ocorrendo de forma aberta e construtiva, com contribuições de todas as partes interessadas, desde empresas até desenvolvedores”, afirmou.
O projeto inclui disposições para garantir a segurança dos usuários de IA, proteger dados pessoais e garantir a transparência.
“Ele estipula que os sistemas de IA devem atender aos padrões de proteção de dados e confidencialidade e proíbe a coleta, armazenamento ou distribuição não autorizada de informações pessoais. O grupo de trabalho também está considerando a introdução de responsabilidade criminal para o processamento automatizado de dados pessoais em massa que coloque em risco grandes números de pessoas”, disse Saimova.
Criando uma Jurisdição Inteligente de IA
Evgeny Pitolin, diretor-gerente da Datastar e co-presidente do Comitê de Segurança da Informação da Aliança QazTech, também discutiu o potencial do projeto de lei para criar uma jurisdição especializada em IA no Cazaquistão.
“O Cazaquistão poderia se tornar o segundo país do mundo a regular a IA através de uma legislação independente. Se implementado corretamente, o projeto poderia acelerar a adoção de IA em todos os setores, desde construção e produção de petróleo até indústrias de alta tecnologia, proporcionando um quadro legal claro onde a digitalização anteriormente havia estagnado”, disse Pitolin.
Pitolin destacou três princípios-chave incorporados na proposta de lei: a transparência dos algoritmos de IA e da tomada de decisões, a priorização do bem-estar humano em relação à tecnologia e a garantia de segurança de dados e cibersegurança. Ele enfatizou que esses são essenciais, especialmente quando a IA é integrada em infraestruturas críticas ou utilizada por agências governamentais, que exigem maior transparência e responsabilidade.
“Cinco anos atrás, os países hesitaram em regular a IA por medo de prejudicar a inovação. Hoje, está claro que a falta de supervisão leva à desconfiança pública, riscos de segurança e desigualdade digital”, afirmou.
Diferentemente de alguns países, Pitolin observou que o projeto de lei do Cazaquistão evita restrições excessivas e adota uma abordagem diferenciada, impondo regulamentações mais rigorosas apenas a sistemas de IA autônomos e de alto risco.
Ele disse que a lei aborda ameaças urgentes, como deepfakes, fraudes impulsionadas por IA e acesso não autorizado a dados, que estão sendo enfrentadas em conjunto com emendas ao Código Administrativo e outras legislações digitais. A lei aumentaria a responsabilidade para desenvolvedores e proprietários de sistemas de IA quando danos são causados aos direitos, saúde ou segurança dos cidadãos.
Uma Transformação de Talentos
Além das implicações legais, Pitolin destacou que a lei provavelmente irá remodelar o mercado de trabalho de TI do Cazaquistão e influenciar investimentos em cibersegurança. Uma consequência chave será a necessidade de reciclagem abrangente, particularmente em áreas como manuseio de dados, design de sistemas de IA e segurança digital.
“A lei pressiona indiretamente por uma reforma educacional. Profissionais de tecnologia que não atualizarem suas habilidades em big data, programação e IA correm o risco de ficar para trás—não porque a IA os substituirá, mas porque não serão capazes de se adaptar”, disse.
Ele acrescentou que a demanda por profissionais que combinem expertise em TI e regulamentação legal, e por especialistas que possam não apenas programar, mas também navegar nas dimensões éticas de trabalhar em ambientes digitais, aumentará.