EXPLICADOR: A Lei Básica de IA da Coreia
A Coreia do Sul se posicionou na vanguarda da regulamentação de IA na Ásia com a promulgação da Lei sobre o Desenvolvimento da Inteligência Artificial e Estabelecimento de Confiança, ou a Lei Básica de IA, em 26 de dezembro do ano passado.
Essa legislação inovadora torna a Coreia do Sul o primeiro mercado asiático a estabelecer um quadro legal abrangente para a IA, seguindo a liderança da União Europeia, que possui a Lei de IA da UE. A lei entrará em vigor em janeiro de 2026, proporcionando às empresas um período de preparação de um ano para atender aos seus requisitos.
QUAIS INDÚSTRIAS A LEI IMPACTARÁ?
Segundo especialistas, a lei terá um impacto significativo em indústrias que dependem fortemente de IA. No setor de mobilidade, os sistemas de veículos autônomos se enquadram na categoria de “IA de alto impacto”, que utiliza sistemas de IA que afetam “vida, segurança física e direitos fundamentais”. As atividades de IA de alto impacto exigem avaliações de segurança aprimoradas e transparência.
Da mesma forma, os sistemas de IA em dispositivos médicos e saúde são classificados como de alto impacto devido ao seu efeito na saúde e segurança. “No setor de dispositivos médicos, a Lei de Produtos de Saúde Digital (DHPA), que regula ensaios clínicos, aprovações e controle de qualidade para produtos médicos digitais, já está em vigor. Isso torna crucial para as empresas deste setor se prepararem proativamente”, explica um especialista.
Para instituições financeiras, os sistemas de IA utilizados em avaliação de crédito, recrutamento e processos de empréstimo podem cair sob a alçada da lei, exigindo um exame cuidadoso das disposições regulatórias e ajustes nos sistemas de IA conforme necessário.
“Além disso, como o escopo de serviços de ‘IA de alto impacto’ sob a lei é mais restrito do que o de ‘serviços de alto risco’ especificados nas diretrizes da Comissão de Serviços Financeiros, as instituições devem permanecer vigilantes quanto às práticas futuras de aplicação para garantir a conformidade”, acrescenta o especialista.
No mínimo, as empresas que utilizam sistemas de IA de alto impacto ou generativos devem informar os usuários com antecedência se seus produtos ou serviços incorporam elementos de IA ou são criados artificialmente.
“Além disso, qualquer empresa que forneça conteúdo gerado por IA deve indicar claramente que a produção é oriunda de IA generativa. As empresas que lançam conteúdo virtual – incluindo imagens ou vídeos gerados por deepfake – devem assegurar que tal conteúdo seja acompanhado por uma notificação ou rótulo claro explicando sua origem e método de formação”, observa o especialista.
QUAIS OBRIGAÇÕES DE CONFORMIDADE A LEI IMPOE?
O especialista aconselha as empresas a avaliarem proativamente se seus sistemas de IA se enquadram na categoria de “alto impacto”, uma vez que a lei concede ao Decreto Presidencial a autoridade para definir o escopo dessa categoria.
Para empresas que operam serviços baseados em IA de alto impacto, recomenda-se seguir uma série de obrigações para garantir conformidade com a nova lei. Essas obrigações incluem implementar medidas para identificar e mitigar riscos, fornecer explicações claras sobre serviços baseados em IA e garantir a proteção do usuário.
As empresas também são incentivadas a projetar sistemas de IA que permitam monitoramento e intervenção humana quando necessário, além de manter documentação para verificar a segurança, confiabilidade e conformidade regulatória do sistema de IA.
Para sistemas de IA de alto impacto, as obrigações adicionais de conformidade incluem padrões de segurança e confiabilidade, planos de gerenciamento de riscos, estratégias de proteção ao usuário, mecanismos de supervisão humana e avaliações de impacto.
Notavelmente, a lei também possui aplicação extraterritorial, exigindo que empresas não coreanas designem um agente doméstico com presença na Coreia quando certos limiares forem atendidos.
“Se um fornecedor de serviços de IA global se enquadrar nesse mandato, ele também deve nomear um representante legal na Coreia para tratar de questões de conformidade, e a falha em atender a esses requisitos pode resultar em multas de até 30 milhões de won (cerca de $20,457) por não conformidade com as obrigações de notificação e nomeação de agente doméstico, além de restrições à operação comercial se as ordens corretivas não forem seguidas”, alerta o especialista.
COMO A LEI SE COMPARA A ABORDAGENS DE OUTRAS JURISDIÇÕES?
Enquanto outras jurisdições, como o Reino Unido, a China continental e o Japão, continuam a debater a legislação sobre IA, com novas leis projetadas para 2025, a abordagem da Coreia do Sul fornece um ponto de referência valioso para equilibrar inovação com desenvolvimento responsável de IA.
“A China adotou um quadro regulatório rigoroso que prioriza segurança nacional e soberania de dados”, afirma o especialista. “Cingapura, por outro lado, adotou uma abordagem flexível, liderada pela indústria, promovendo a governança corporativa de IA por meio de diretrizes não vinculativas em vez de uma aplicação rígida.”
Em comparação, “a Coreia adotou uma postura regulatória equilibrada, visando apoiar o crescimento da indústria de IA enquanto garante transparência e segurança. A abordagem coreana busca fomentar a inovação enquanto implementa salvaguardas contra potenciais riscos relacionados à IA”, conclui o especialista.
“Essas diferenças destacam como cada país adapta suas regulamentações de IA para alinhar-se ao seu ambiente econômico e prioridades políticas. Ao mesmo tempo, sublinham a importância de avaliar cuidadosamente o impacto das regulamentações de IA na competitividade nacional e no avanço tecnológico”, acrescenta.